quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Existem raras situações no meu cotidiano que finalmente me levam a constatar que EU existo. Sim, me livro das obrigações, dos prazos e responsabilidades a cumprir, do francês pra falar, das aulas pra me concentrar, dos textos pra ler, do projeto pra escrever, do spinning pra quase morrer, da dança pra me libertar, da música pra me alienar, dos trabalhos pra fazer e enfim, toda essa atribulação para apenas cumprir - e não pensar.
Hoje tive um breve acesso de reflexão enquanto percorria a Federal infinita, sob chuva, carros e gente, muita gente. Olhando aquelas pessoas me questionei de que maneira eu administrei minha vida pra ser o que eu sou, e não o que elas são. Sim, parece uma reflexão insana, mas é só um questionamento a respeito de ser eu e de que maneira cheguei até aqui. Fiz escolhas e construi imensidade de princípios e desejos e gostos, obtive realizações, acumulei medos e complexos, vontades que reprimi, que eu me convenci a ter e que eu tive naturalmente, sem grandes reflexões e repressão, ilusões, objetivos, riscos, traumas. E até que ponto eu realmente tive escolhas e vontades. Qual é o tamanho da força do meu sub inconsciente no estabelecimento do que eu sou e virei a ser? Que ilusão estúpida é essa, de achar que eu sou algo que eu construi com 100% de discernimento?

Se eu tivesse me esforçado mais pra quebrar minha timidez que me jogou e joga pra um mundo limitado cheio de mecanismos de defesa, pra não me fazer perceptível. Se eu tivesse olhado melhor pras pessoas, notado a existência delas e tirasse forças de-não-sei-aonde pra descobrir que elas podem ser interessantes. O que seria hoje do meu ciclo social? Maior, melhor, mais realizador? E meu auto-conhecimento, mais amplo? Minha essência sobreviveria tão bem quanto eu imagino que ele sobreviva por que eu me treino e me treinei a ser eu, somente eu e distinguir criteriosamente as influências que eu permiti sofrer? Se eu tivesse sido mais afetiva com as pessoas a minha volta eu seria mais realizada, no passado e hoje. Dá tristeza pensar que eu perdi parte da infância dos meus irmãos, a convivência com colegas de escola e faculdade e familiares, porque eu não sabia direito a respeito de envolvimento emocional. E ainda não sei tão bem, mas me esforço. Muito.

E se eu tivesse viajado, saído do país, conhecido outra língua e outras culturas? Meu cérebro e meu senso crítico são do tamanho de Belo Horizonte. Acho triste. Meus filhos vão conhecer muito mais do que dez bairros provincianos de uma cidade pateticamente provinciana. E se eu tivesse engolido o choro depois de brigar com a professora de balé e ter continuado a dançar? Eu queria ser bailarina, sempre quis. Mas me sabotei, aos 13 anos de idade. Não dei conta dos meus medos e me convencia a abandonar a importância de mais um, entre tantos, sonhos. E se eu continuasse a escrever e acreditasse em qualquer talento que queriam me convencer que eu possuía? – me sabotei de novo. E se eu ignorasse minhas inseguranças e continuasse a atuar, sem usar de tantas desculpas e justificativas que jamais convenceram a ninguém, muito menos a mim. E se eu me achasse bonita na adolescência, mesmo com espinhas, gorduras localizadas e cabelo Maria Bethânia? Eu poderia de verdade ter ficado bonita. Por que hoje entendo o poder transformador da auto-confiança – e olha que a minha nem é assim, grande coisa. Enfim, não lamento ser o que sou. Mas acho mágico e importante poder imaginar que ainda posso ter uma influência cavalar sob o meu destino e meu futuro se eu investigar mecanismos de defesa, medos e auto-sabotagens e eliminá-los, antes que eles eliminem meus potencias e minha capacidade de ser feliz.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Vergonha

Ok. Hora errada pra ter crise existencial. Cansada. Horas de estudo, estresse e uma aula de spinning pra matar qualquer ser humano.

Há tempos atrás eu ouvia sermões do meu pai sobre a minha indiferença, o meu egoísmo, a minha falta de educação, a minha anti sociabilidade e o meu desprezo pelo mundo e seus habitantes, como se fossem as palavras mais entediantes e sem sentido do universo. E eu escuto discursos assim desde criança, desde adolescente, desde sempre. Sempre ouço tudo calada ou argumentando quaisquer banalidades. Mal entrava num ouvido e já saia pelo outro. Nada me abalava. Ninguém, nunca.
Hoje não. Hoje, me doeu no coração e na consciência ter tido uma atitude tão escrota e pavorosa. O que tem de errado comigo?
Acordo todos os dias e vivo todos os segundos desejando e elaborando planos pra me tornar uma pessoa melhor. E agora isso. Pra me mostrar que muitas vezes o esforço pode não ser suficiente. E que talvez a minha disciplina e força de vontade foram abandonadas em prol de velhos comportamentos de defesa. Com as mãos escondendo o rosto: estou morrendo de vergonha de ser eu.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sem cérebro demais

- marina, vc vai pensar sobre isso que você fez e depois conversamos, tá?
- mas eu não fiz nada sozinha. e além do mais, estou cansada de pensar. não vou mais pensar.

Saí do carro. Cansada. 4h30 de conversa. Foi exaustivo. Não cheguei à conclusão nenhuma. E eu sei, eu sou muito esquisita, contraditória, complicada e sim, vc tem razão, tb tenho algum tipo de transtorno de atenção, mas dessa vez não houve uma palavra sua que me escapasse aos ouvidos. Mesmo assim, entendi bulhufas, me confundi mais ainda (seria isso humanamente possível?) e chutei o balde. Achei um saco essa falação, essas explicações sobre nada que não chegam a lugar nenhum, a pose, o jogo, as indiretas, a vontade, a repressão, os risos de nervoso e os comentários sobre coisas externas só pra ignorar a existência de nós dois e essa historinha chata por demais. Encaremos a verdade. Eu te quero, vc me quer, vamos lá. E é claro que tem muitas questões sérias, relevantes e impactantes que envolvem simplesmente ficar com você, mas eu estou cansada delas. Estou cansada de mim. Essa bagunça toda que eu faço da minha vida e, brevemente, fiz da sua. Eu também pensei o dia todo sobre o erro que poderia ser ficar com vc, mas não deixei que esses medos tomassem conta de mim e controlassem meus desejos, instintos e vontades, como eles sempre fazem. Eu já me arrependi o suficiente durante quase dois meses por permitir que minha razão repudiasse por completo minhas emoções e, sinceramente, não estou disposta a deixar isso acontecer de novo. Estou em busca de um meio termo. Estou tentando ser menos rôbo e mais gente. Mais mulher. Mais eu, de verdade. Sem tentar me enganar na ilusão de ser algo que eu não posso, não quero ser. E bom, estou vendo meus limites. O que eu suporto, até quando, porque e em nome de que. Ação e reação. Sem cérebro demais.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

homem ou mulher?

m- eu quero ser mulherzinha, romântica e madura.
b- isso você já é.
m- tá, eu sou. mas tem um homem dentro de mim, e ele não presta.

domingo, 20 de setembro de 2009

o erro, a frustração, o vazio, o nada, o medo, a indiferença, a desumanidade, a vontade, o desejo, a compulsão, a insaciedade, a vontade, a vontade, a vontade. a raiva, a vergonha, a humilhação, a culpa. o ego, a vaidade, a sedução, a mentira, a conquista, a rejeição, o não, o sim, o nada. os jogos, as frases, o egoísmo, o egocentrismo, o ego-qualquer-coisa, sempre o ego, o ego e seu poder de enganar, de iludir, de dolorir, de cegar a existência do alheio. a carne, o espírito, os embates, os paradoxos, os princípios, o pudor, o respeito. a falta, o excesso, o abismo. o contido, o reprimido, o imensurável. a intensidade, o embotamento, o desligamento, a volubilidade. a cegueira, a distorção, a burrice, a estupidez. a auto-sabotagem, a imaturidade, a ignorância. a falta de sentido. os sentidos ocultos, o inconsciente, os traumas, os significados e a falta deles. o-prazer-o-vazio-a-culpa-os-questionamentos. o incontrolável, o controle em absoluto. o humano, o animal, a alma. as-verdades-inquestionáveis-questionadas-o-tempo-todo. ai, cansei.

sábado, 29 de agosto de 2009

Estou feliz por conseguir chorar. Eu sei, essa é a frase mais paradoxal e estranha dos últimos tempos. Mas eu preciso eliminar essa podridão dentro de mim. Tá tudo doente. Dolorido. Excretado. Apodrecendo. Esvaziando. Preciso jogar tudo no lixo e recomeçar. Estou cansada de ter que ser eu. Quando eu olho pras pessoas me vem um misto de repugnância e inveja. Não queria ter a minha vida por alguns minutos, queria ter outra. Qualquer outra.
Queria minha cama e fim. Sem essas pessoas compartilhando de uma felicidade que eu não reconheço. Casamento, mentiras, festas, imagem, vaidade, mentiras, mentiras, mentiras. Ilusões, novelas, personagens, um palco boçal, uma encenação sem sentido que não me convence, não me comove e só me desperta vontade ainda maior de não participar disso. E ontem: aquele antro de animais insaciáveis no prazer - o prazer da vaidade, da conquista, da sedução, do entorpecimento, do exibicionsmo. Cheguei a conclusão de que era possível participar disso: assim que eu me tornasse completamente alcoolizada. Como eu fiquei sã e sóbria pude perceber como é ridícula a situação em que aquelas pessoas se colocam. Dançando uma música imbecil, pra ser vista e ver. Se exibir, e conquistar. Beber seu drink colorido no canudinho, fazendo caras e bocas de quem é sexy, feliz, bem-resolvida e disponível. Enquanto um ser do sexo oposto, verifica o que tem na prateleira daquele comércio de peças indiferenciadas, pra estimar qual seria a aquisição mais fácil. Analisa a cantada mais convincente, as mentiras mais deslavadas, a atuação mais canastrona e vai lá: se esbaldar naquele velho e ridículo joguinho de sedução. E eu lá, sem conseguir achar graça de tudo isso. É muito mais deprimente que hilarante, juro.
Enfim, também construi um monte de mentiras pra mim. Vivo de mentiras, acredito nas mentiras alheias e reproduzo na suposta realidade um farsa sem tamanho. E isso me esburaca e apodrece tudo aqui dentro.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Contradições

Quando você acha que tem tudo sob controle, aquele joguinho bem nas suas mãos, os sentimentos contidos, as emoções freiadas, as estratégias muito bem elaboradas e em pleno e eficiente funcionamento, as pessoas se submetendo às suas regras, você seguindo o que foi devidamente estabelecido. Tudo funcionando. Tudo ocorrendo bem. Tudo dentro do seu campo de manipulação. Tudo morno, calmo, tranquilo. Tudo simples. Tudo compreensível. Eventualmente, rola um vazio e uma frustração latente, que te faz repensar sobre a graça da vida estabelecida sob uma razão absoluta, onde a emoção não ganha espaço. Mas enfim... é o preço que se paga pra não sofrer, não correr riscos e ter (fantasiosamente) as relações e as pessoas nelas inseridas, sob o meu absoluto controle.
Mas num encontro, aparentemente sem importância, com alguém sem importância - só conversas despropositais, álcool, pele, carne, cheiros, beijos, mentiras e adeus - em alguma situação inesperada e subitamente você percebe que perdeu o controle. Não completamente, ainda existem meios pra se proteger, ainda existe a fuga covarde, ainda existe a contínua lavagem cerebral pra não se fazer acreditar no sentimento, no interesse, na importância, ainda existe a poligamia pra minar minha vontade de monogamia com aquele ser na minha frente sorrindo bonito. Aquele ser que era pra ser só mais um, em só mais um encontro, tudo muito pouco e sem valor. Foi tirado de mim o controle da situação. Parte do que estava nas minhas mãos, escapou. Minha supostamente inabalável razão foi abalada, perdeu parte do seu poder e do seu espaço dentro dessa relação. E aí, ganharam espaço toda a minha fragilidade e o meu estafo pelo esvaziamento afetivo, toda minha carência pelo desconhecimento do amor, do romance e da paixão. E então, eu inventei uma emoção. Porque viver relações vazias está me deixando cansada, triste, frustrada, confusa e distante de mim. Distante da minha essência, dos meus anseios - o maldito corrompimento em nome da adaptação. Quero um amor arrebatador ou não quero nada. Quero ficar sozinha. Preciso me encontrar. Não sei se essa emoção surgiu baseada na admiração e no afeto verdadeiros ou foi fruto da minha ânsia em me realizar emocionalmente. Não sei. Estou cansada também, de me iludir. Tanta mentira me deixa perdida e despreparada pra julgar a realidade. Talvez ele seja só mais um cara mesmo, em só mais um encontro. Talvez meu sentimento seja real, e eu devesse mesmo, acreditar nele e viver isso. Mas não quero. Não posso, não devo. Quero ser livre. Sem essas armadilhas estranhas de entrega, posse e resignação. E aí, que eu me confundo por completo. Porque desejo coisas paradoxais e não sei administrar a minha vida nesse sentido. Quero só carne, uso e descarte, diversão e desapego - e que toda essa vontade seja explícita e de mútua ocorrência, sem conversinhas, mentirinhas, promessas e sentimentalismo falso. Mas quero amor de verdade, beijos apaixonados, tremor nas mãos ao tocar, coração disparado ao ver, emoção arrebatadora ao pensar. E quero ser livre, ter meus finais-de-semana, meus amigos, meus forrós, meu tempo, minhas vontades, minhas viagens, meus próprios limites. Mas quero a exclusividade, quero ter alguém pra embalar meus sonhos, compartilhar minha vida e assistir filme abraçada no sofá. É estranho ter essas vontades simultaneamente, sendo que todas elas, me provocam um misto absurdo de repulsa e expectativa, anseio e nojo, ambição e desprezo.

domingo, 9 de agosto de 2009

E Deus disse...

Antes de nascer Deus me deu uma lista estranha de avisos:

"É. Não vai achando que a vida vai ser fácil. Você vai sofrer um bucado para descobrir a felicidade, se descobrir e aprender a lidar mais tranquilamente com essa carga pesada na sua mala, cheia de defeitos, de medos e ilusões. E você vai querer desistir eventualmente, jogar tudo pro alto e esquecer dessas cruzes pra carregar, mas é em vão, pois elas estão dentro de você. E não se substime: você consegue e sabe que consegue. Você vai conseguir um monte de vezes. As cruzes vão se tornar mais pesadas em alguns momentos e você pode fraquejar. Mas você tem uma força imensurável pra viver, tome cuidado para não acreditar cegamente na potência dessa fragilidade que eu botei na sua bagagem. Você suportará, enfrentará, aprenderá e vai sorrir, cansada e realizada, na reta final. Vou te dar um bucado de abandono na infância e na adolescência, mas servirá pra você aprender a gostar da solidão. Apenas tome cuidado pra não gostar demais. Tome cuidado pra não se afastar demais das pessoas, se tornar amarga e indiferente, se tornar um poço de desapego pelo medo do abandono, afinal você é sensível demais e um dos maiores dilemas da sua vida será: equilibrar o amor, a falta de amor, a vontade de amor e o medo de amar. Amor de qualquer natureza, dentro de relações de qualquer espécie. Você vai oscilar entre o afeto, a indiferença e a repulsa tantas vezes até se sentir culpada por parecer fria ou desumana. Mas é só medo demais que você carrega. As pessoas serão pra você seres interplanetários, que você não entende, não acessa, não compartilha, não sabe lidar e alimentarão em você a vontade de fugir pra qualquer lugar habitado por indivíduos mais familiares. Vou te colocar num mundo que parece não ser seu.Você vai se aliar à ilusões, ao platônico e a mentira pra suportar a vida. Mas aos poucos você vai perceber o quanto isso te faz mal, te faz sofrer e te afasta da sanidade. Aprenda a administrar a ilusão, pois apesar dela ter o poder de saciar, realizar e dar mais brilho à existência, tudo isso deve ser conquistado através da realidade que eu te dei. O mundo será pra você dotado de tudo que lhe parece incompreensível e inacessível. Regras que você não entende. Convenções que você luta pra se adequar. E por mais que se encaixe em termos práticos, na sua mente sentimentos de deslocamento e repulsa vão te perseguir até o dia em que você se veja como igual aos seus semelhantes, amadureça e se sensibilize o suficiente para ver e entender o que e quem está ao seu redor, e assim se livrar desse egocentrismo patológico que não te permite sair do seu pequeno universo. Espero que esse dia chegue. Lembre-se que botei na mala um tanto bom de disciplina e obstinação: você sabe que chegará aonde quiser chegar. E você sabe também que tem potenciais que não devem ser esquecidos e ignorados. Não deixe de separar um espaço especial na sua vida para as coisas que te dão prazer e te realizam. Não se esqueça do exercício diário de se tornar mais humana, mais digna, mais justa. Não se esqueça de sentir. Mas também não sinta demais. E aqui chegamos a outro grande dilema da sua existência: o equilíbrio das suas emoções. O paradoxo entre querer o prazer a qualquer custo e ter que lidar com todas as consequências pavorosas de obtê-lo. A insuportabilidade de viver o sofrimento, o tédio, a monotonia e todos os efeitos dos mecanismos construídos pra burlar essas situações. A frustração que acompanha a elaboração de sentimentos de alegria ilusórios, paliativos e que duram minutos. O sexo, a comida, a vaidade, as ilusões, as subtâncias psicoativas - tudo isso com que você vai estabelecer relações de amor e ódio, compulsão e abstinência, vontade e repulsa. Eis aqui mais um paradoxo - aprenda a lidar. A vida não tem receita mágica, aprenda o que é bom e ruim, o que é certo e errado pra você, o que te faz bem e o que te faz mal, preste atenção em cada caminho percorrido e aonde eles te levarão. Se respeite. Construa princípios embasados nas suas verdades - mas seja flexível para compreender que eles são mutáveis. Entretanto, não os corrompa tão facilmente, afinal, são eles que te levam pra uma vida equilibrada e saudável. Descobrir suas verdades, seus princípios, a sua felicidade e a sua ruína será um eterno e árduo trabalho. Não pense que será tão simples. E eu sei que você vai sentir muita raiva de não poder ter tudo isso sob controle e de sofrer tanto por ignorância e irracionalidade. Vou te fazer fraca demais, sensível demais, frágil demais. Seu corpo padecerá de doenças de diversas naturezas. Mas será bom para que você possa valorizar os breves momentos de gozar de uma saúde inabalada. Um pulmão fraco, um coração fraco, a pele e as unhas fracas, um estômago fraco. Alergias mil. Míope. Gastrite. Asma. E a fragilidade emocional vai afetar ainda mais o seu corpo, de formas várias. Essa incapacidade de sentir saudavelmente. Essa sua mania de excesso. Essa sua intensidade. Vou te dar uma inteligência emocional ridícula, mas você pode aprimorá-la. Lute por isso e pare de sofrer com essa burrice pra sentir e lidar com sentimentos. Você vai lutar, sofrer e se dedicar a encontrar o que realmente te realiza e te faz feliz, mas quando você acredita ter encontrá-los, você começará a questionar tudo. Então, entenderá que a descoberta da felicidade é um caminho infindável e eterno a se percorrer. Mas eu sei que você sempre estará disposta a percorrê-lo, cheia de determinação, reflexões e sensibilidade. A sua vontade de ser melhor, sempre e cada vez mais, te levará à um nível de elevação e auto-realização muito grandes. Não deixe de acreditar em você. Afinal, te dei esses potenciais porque acreditei que saberia valorizá-los e ampliá-los. E botei essas pedras pesadas na bagagem porque sabia que você suportaria carregá-las. E pra que você pudesse ir deixando-as pelo caminho, depois de ter extraido de cada uma, sofrimento e aprendizado. Pode ir. Não vai ser fácil, mas será maravilhoso. E você merece que seja."

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Hoje eu decidi anular meu dia. Acordei meio dia, a manhã eu já eliminei. Acordei morta de sono, ressaca, cabeça vazia. Pra que viver o resto do dia? Vou me entregar à tarefas vazias, vou rir da minha produtividade científica, não vou fazer almoço e nem vou almoçar - e dá-lhe veneno em forma de comida. Vou acabar com meu estômago também.
Vou fazer "pesquisa" no orkut, descobrir sobre a vida alheia, mas é óbvio, que vida nenhuma é interessante a ponto de me fazer perder um minuto da minha própria vida, pesquisando-a.
Vou andar pelas ruas e lojas, buscando coisas que eu não preciso. Vou pensar sobre o que não faz o menor sentido. Vou cultivar amores platônicos multíplos por pessoas que não existem. Vou fantasiar, inventar, enlouquecer e olhar pro mundo como se não tivesse a menor graça a vida real. Vou estacionar livros, músicas, cinema, conversas interessantes, tarefas relevantes e meu projeto.
Vou fingir que eu não existo hoje, só por hoje. Decretei que não tenho cabeça e saco pra viver.
E a culpa aqui, me corroendo. Sou absolutamente paranoica com indíces de produtividade, em dar sentido a tudo, e me preocupando exaustivamente e sempre, sempre, sempre em dar valor a cada segundo da minha vida. Não desperdiçar energia, tempo e dedicação com atividades que não vão me levar a lugar algum. Fiz isso com todas as horas do meu dia - desperdicei.
Fico pensando como grandissima parte das pessoas faz exatamente isso com exatamente tds as horas de tds os seus dias, e isso lhes parece tão natural. Não estou dizendo que eu esteja certa de perseguir obsessivamente a minha consciência com cobranças a respeito da valorização das minhas atividades - é doentio também. Mas é simplesmente muito difícil de imaginar como é possível viver o extremo oposto da minha doença. E se considerar feliz.

domingo, 26 de julho de 2009

Mágica - inversão de pápeis

Eu lamento, sou a vítima. Fui cruelmente rejeitada. Fui colocada de lado. Fui usada, enganada, feita de idiota. Fui vítima da canalhice alheia, da falta de cárater de uns e outros, da má fé de quem não me merecia. Então coloco meus pontos de vista - de maneira enlouquecida, admito. Histérica, gritando absurdos e baixarias. Acuso, xingo, humilho. Então, recebo um olhar assustado, mil justificativas que colocam por terra tudo que eu tinha dito há cinco minutos e a postura de alguém cem vezes mais sensato que eu. Então, como por mágica eu saio da posição de vítima e ganho a posição de errada. E estou pedindo DESCULPAS.
Meu Deus.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eufemismos (medíocres) da vida moderna (medíocre)

Nesse atual mundo estranho e maluco é tão difícil que as pessoas aceitem o sofrimento, a rejeição, o desprezo, a frustração, a dor. É inaceitável o sofrer - isso é coisa de gente frágil, dramática e dotadas de uma sensibilidade que vira piada. Devemos buscar saídas, fugas paliativas pra não perceber, não sentir e não viver o que de ruim nos foi proporcionado. Devemos esquecer, anular, embotar, fingir que esta tudo ótimo, que tudo é comprensível e suportável. Encher a cara, falar de coisas sem importância, mergulhar em atividades hedonistas sem propósito. Nos alienar em mentiras, em prazeres efêmeros, numa felicidade falsa e inconsistente. Relevar, não sentir, se cegar e dizem por aí: "passar-por-cima-bola-pra-frente-e-a- vida-continua". Como se esse conjunto de metáforas idiotas não quisessem dizer apenas:

“ignore o que existe de ruim na sua vida, os acontecimentos lamentáveis, as humilhações, as decepções, as pessoas desprezíveis que passaram pela sua vida, os comentários que você não queria mas precisou escutar, a batalha perdida, o ego imenso que não suporta ser atingido negativamente, a falha, o erro, a culpa, a mentira, a perda, o fim, o vazio. Ignore tudo isso e busque alguma válvula de escape qualquer, alguma satisfação passageira que segundos depois vai te conceder mais vazio e frustração do que você imaginou ter. Corte o cabelo, troque de namorado, faça umas boas compras, viaje pro litoral, vai pra noitada alcoólica curtir um espetáculo medíocre de ego e sedução, conte piadas, fala sobre a vida da vizinha problemática e enfatize sempre o quão grande é o espaço da futilidade na sua vida. Ignore seus problema, aponte o dos outros. Ignore sua tristeza, busque a falsa realização sob quaisquer meios. Concentre-se no que não é relevante e abandone o que realmente deve ser encarado de frente, com coragem e maturidade. Não aprenda com seus erros, insista neles acreditando estar fazendo o que deveria ser feito, sem que a reflexão permeie sua mente por nenhum segundo. Mantenha a infelicidade constante, brevemente invadida por alguns segundos de prazer, através destes mecanismos doentios de se enganar. Paralise sua mente infantil e imatura, não perca tempo tentando se entender, entender suas atitudes e o mundo a sua volta – tudo parece-lhe confuso e desgastante demais. Apenas exista, viver pode te exigir mais energia a qual você está disposto a oferecer e mais pesar que você pretende vivenciar, não importando-lhe o quão a dedicação, a dor, a reflexão e a disciplina valham a pena, te oferecendo uma mente mais límpida, um coração mais preparado e calmo, uma maturidade incomparavelmente superior”.

Sabe, eu não quero passar por cima. Quero ver os fatos, me livrar de todas as ilusões, sofrer mas apenas o necessário, lamentar, mas apenas para reconhecer o sofrimento e discernir caminhos, buscando aqueles que não me remetam mais a essa dor. Quero aprender. Quero amadurecer. Quero poder me elevar – em mente e espírito. Quero ter um maior controle das minhas emoções - e quem me conhece sabe o quão isso é difícil e doloroso pra mim. Quero acreditar que eu posso sim errar, aceitar o erro, me perdoar e virar a página do erro, sem lamentações, idéias fixas e sem tomar decisões radicais e irremediáveis (que duram cinco minutos). Quero descobrir o meio termo. Os extremos me levam pra fora da realidade.
Quero descobrir como é possível sentir e pensar ao mesmo tempo sem que eu opte pelo desgaste por uma emoção arrebatadora e nem por um esvaziamento humano pela incapacidade de sentir. Quero confiar naquilo que eu acredito, vivenciar minha essência e não me corromper. Aprender a lidar com o difícil dilema de me adaptar ao mundo, viver nele com menos sofrimento e de maneira mais tranqüila, sem que eu precise me corromper, esquecer do que eu sou e acredito, pra vivenciar metas metodicamente estabelecidas por uma razão desmedida, de como-ser-como-viver-e-mil-justificativas-para-tudo. Como se eu fosse uma legislação, e não um ser humano. Como se eu fosse dotada de normas, artigos e imposições, e não como se eu fosse alguém com princípios frágeis, passíveis de sofrer reflexão e mudanças, como se eu não passasse por transformações diárias em meus comportamentos e maneiras de entender o mundo e, sobretudo, me entender. Como se eu não tivesse 23 anos e pudesse ainda cometer milhares de erros e loucuras, como se eu não pudesse me desestabilizar emocionalmente por causas injustificáveis, como se eu não pudesse ser responsável pelas piores bobagens e os maiores arrependimentos por não saber como agir - e agir errado. Como se eu tivesse a obrigação de ter todas as respostas, entender tudo e todos, prever fracassos e falta de caráter alheio. Como se eu não tivesse TPM e não me transformasse num ser irracional e insano por causa desses hormônios out of control. Enfim... ser realista nunca é demais. E “passar por cima” é um eufemismo medíocre que simplesmente me remete a: se encher de mentiras pra se livrar de erros e sofrimentos que persistirão enquanto você não os percebe, os entende e se mune de armas para remedia-los e preveni-los.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Cansaço

Prometo fazer diferente hoje. Vou viver intensamente e fim - sem que a razão me persiga e detone meus anseios de felicidade. Vou acreditar nisso, por hoje. Se fôr outro erro, que eu chegue a essa conclusão conscientemente e não instigada pela vontade de fugir, medo de me envolver e investir e pela descrença no mundo, nas pessoas e no romance.
Minha intuição é ótima e minha intuição quase sempre razão.
Mas estou com tudo sob controle. Minha emoção não está limítrofe, como normalmente é de se esperar. Acho que a maturidade tem dessas coisas.
Estou cansada de relações vazias. Estou cansada de uma vida desprovida de romance e paixão. Estou cansada de me forçar a acreditar que não vale a pena. Estou cansada que não valha mesmo a pena, não importa o que eu faça. Estou cansada de me convencer que as relações podem fazer sentido sem sentimento e perspectiva, porque é mentira. Eu sei disso, eu sinto isso e chega de querer ser algo que eu não suporto ser - mesmo que me pareça mais fácil. Estou cansada das mentiras que envolvem relações assim. Estou cansada das piores escolhas, de permanecer nelas e insisitir nelas até que eu chega a um limite insuportável.
O caminho mais fácil é sem dúvida nenhuma o mais mediocre. E nada me cansa mais do que mediocridade.

sábado, 18 de julho de 2009

Para não me permitir corromper

Acordei na noite passada numa madrugada fria, dor de estômago, acumulando cobertores, esparramada no sofá da casa de outra pessoa. Levantei pra apagar a luz e senti meu estômago revirar, se desintegrar e tentar se recompor enquanto eu lamentava de dor. Durante o trajeto até o interruptor eu fiquei imaginando como tudo na minha vida estava errado e eu estava absolutamente cansada e desgastada pelo estigma do erro. Beber até desmaiar no sofá, pela terceira vez consecutiva em festas G8 da galerinha do teatro. Na metade da festa, eu já estou reclamando de ânsia de vômito, já estou vomitando e desejando vomitar todo o meu maldito estômago adoentado, já estou buscando sofá e cobertores e adeus todos, vou dormir.
Foi um evento cheio de flashs. O flash de querer beijar alguém que eu não devia, escutar comentários insistentes querendo me convencer a beijá-lo, me trancar na cozinha com essa pessoa, rir de bobagens junto com ele, mexer na sua barba e fugir. E querer ficar, mas querer fugir, me permitir, fugir, mexer na barba, rir, me esquivar, pedir desculpas, sair. Ter minha cintura nas mãos dele, meu corpo no corpo dele e querer, mas me esquivo, fujo, saio, desisto e sento na mesa pra comer compulsivamente Doritos e pensar que eu, realmente, tomei uma decisão sensata. Chega de homens errados. Chega. Chega de fazer as maiores bobagens, enaltecida por uma emoção sem estribeiras e depois me lamentar terrivelmente por erros recorrentes.
Flash de dancinhas adoidadas, muito Doritos com Guaca Mole, muita Nutella, leite consensado e Brahma. Flash de aumentar minha auto-estima brevemente com elogios que eu não levo a sério. Flashs de muitas, muitas risadas. E de uma dor de estômago lacinante. Flash de um vazio imenso que me acometeu na madrugada silenciosa, sozinha e cansada, querendo repensar toda a minha vida e atitudes, mas sem a menor capacidade mental pra isso. Mas pensei (como num flash) que eu preciso de mais disciplina, sensatez e maturidade. Preciso não destruir minhas noites de sono, meu estômago, minha alimentação, meu dia seguinte inundado de sono e lamentações. Preciso acordar às 8h, com uma xícara de café pelando nas mãos pronta pra estudar até ficar tonta e realizada. Preciso de noites de sono saudáveis, frutas, menos álcool e coca-cola e açúcar, almoços balanceados, companhias agradáveis, minha família, minhas amigas, meus livros do caio fernando abreu, meu forró, minha saúde. Preciso de verdade, é seguir o que eu acredito e me faz bem. E reviver durante todos os dias, um processo continuo de auto-controle pra não me permitir corromper.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A mediocridade me roubando a vida

Existem duas situações que tiram o prazer das minha atividades cotidianas, eliminam a minha capacidade de me estabelecer no presente, de estar concentrada e dedicada em cada uma das pequenas e das maiores tarefas realizadas diariamente: estar absurdamente feliz ou minimamente triste. Odeio perder a oportunidade de ser feliz, de me realizar, de aproveitar cada segundo intensamente. Odeio esse historinha idiota, medíocre e maluca me tirar cada uma dessas oportunidades. Sei que tudo que eu vivi hoje poderia ter sido vivido com um sentimento de orgulho, motivação e prazer mil vezes maior. Mil vezes mais concreto e importante. Eu poderia ter vivido hoje, mil vezes mais.
Essa cena ridícula e passageira da minha vida, está me tirando um sentimento de realização e vivacidade que eu quero ter pra sempre. Assim que estou construido minha vida: baseada em coisas e pessoas as quais eu escolhi, me apaixonei e quero dar tudo de mim. Então, sei lá porque diabos eu ganhei um prato cheio de mediocridade, que há cinco dias tem tirado o que de mais nobre eu possuo e construi na minha vida. Precisei de muita maturidade, dedicação e disciplina pra ser feliz. E agora, tudo é jogado pro alto por causa de sei-lá-mais-qualquer-idiota, por causa dessa rejeição que deixou minha auto-estima em frangalhos, por causa dessa decepção que mesmo que eu já tenha vivido em termos similares ou bem piores, parece que nunca é fácil lidar.
Sem muito drama. Vai passar. Sei lá quando e como. Mas vai passar.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Eterno retorno, dá um tempo.

Não sei nem por onde começar. Acho perda de tempo pensar em você, essa história, toda essa mentira, toda essa pobreza, toda essa falta de significado. Tenho raiva das minhas lágrimas por alguém tão babaca. Te acho babaca de verdade, em vários sentidos. Você não ganhou essa conceituação pela minha raiva e sentimento de rejeição. Ganhou, porque na minha concepção de babaquice, vc preenche muitos critérios. Ao ser imaturo, insensível, avesso à qualquer tipo de envolvimento emocional e incapaz de dizer "não" diretamente, se aliando à estratégias de desprezo pra me fazer entender. Não estou chorando por você. Nem sei quem é você. Sei que você fala demais, é promíscuo, e burro emocionalmente. Sei que você é inteligente, mas se acha mais do que é, realmente. Sei que é conquistador e sua lábia é de invejar qualquer profissional 171. Mas sua beleza não me apetece. Alías, nem sei de beleza mais.
Estou chorando porque você era a última das esperanças na vida amorosa. Logo você! V-O-C-Ê! hahaha. É ridículo, meu deus. Planejei algo muito melhor pra minha vida. De verdade.
Estou chorando porque fui rejeitada, tive um imperdoável comportamento típico de marina-precisa-fugir-de-ser-feliz, vulgo auto-sabotagem, vulgo anti-midas. Então, como meu inconsciente desejou, e como não poderia deixar de ser, diante da minha atitude babaca, ele me dispensou.
Estou chorando pela frustração, pelo desinteresse alheio, pelo ego, pela vaidade, pelas expectativas frustradas, pelo eterno retorno de viver relações absurdas com pessoas mal-resolvidas que me fazem mal, me deixam traumatizada, desiludida e cheia de vontade de ter comportamentos típicos de pessoas que ignoram a existência de um sentimento mais nobre do que a vontade de usar indivíduos como objetos de desejo, prazer e enaltecedores de um ego adoecido. A arte de não se deixar corromper. De sair de tudo isso ainda acreditando no meu valor, ainda acreditando na felicidade afetiva e no romance, ainda acreditando que há esperança, cheia de compreensão e resignação. Sair mais madura, com convicções ainda mais estabelecidas, compreendendo melhor como eu funciono e como devo funcionar. E enfim, com mais vontade de ser feliz, apesar de ser eu (e isso é mesmo, tantas vezes, muito doloroso de administrar), apesar da pobreza e complexidade das pessoas, apesar de tanta coisa querer me provar que ser feliz e se relacionar ao mesmo tempo é tão difícil.
Mas eu só tenho 23 anos, o mundo é cheio de gente, e eu ainda vou viver muitos romances inesquecíveis e muitas decepções memoráveis. E ainda tenho 4 filhos pra gerar e uma história bonita pra trilhar. Preciso acreditar que vai dar certo. Apesar de tantos pesares.

domingo, 5 de julho de 2009

Meu dia no lixo

Acho que eu joguei meu dia no lixo. E acho que continuo jogando. Pessoas íam me incomodar, eu sabia. Mas mesmo assim, quis abstrair probleminhas afetivos ridículos, silenciar uma mente paranóica ridícula e esquecer a existência de um relacionamento absolutamente e inquestionavelmente, ridículo. Como se eu não me conhecesse, e soubesse que para mim o melhor caminho é sempre o aprofundamento, o vivenciar sincero e visceral do sofrimento, do choro, da raiva, da frustração, pra depois adquirir calma, tranquilidade, respostas e caminhos. E não essa alienação. Mas mesmo assim, me joguei num ciclo de pessoas, que me incomodaram muito, e eu sei, elas também se sentiram incomodadas ao ver a minha dificuldade de afeto, minha falta de interesse e meu autismo de não suportar conversas, risos e comentários.
Cheguei em casa, com 5h de noite mal dormidas, dor no estômago, enjoo e frio. Me apossei de cobertores e me pus a ler, dedicada, o artigo chatissimo de inglês, sobre uma assunto que pouco me interessa. Então, eu percebi que eu estava insistindo na fuga. Estava negando de novo. Então, mandei às favas minha razão: explodi, chorei, questionei mil coisas pra tentar entender. Entender o que? O que há pra ser entendido? Essa falta de razão e sentido quase me leva à loucura. Você não é nada, eu não sou nada e o que nós temos não é nada. Eu não sinto nada, você não sente nada, existem mil estratégias elaboradas para manter isso, sistematicamente encenadas nesse palco de mentiras que nós armamos. As conversas, os elogios, os relatos de saudade, o interesse pela vida um do outro, os abraços, os beijos, os encontros, as mãos dadas, o primeiro beijo mecânico ao te encontrar e o último beijo cheio de esperanças falsas ao me despedir, o carinho no rosto, o cafuné, a forma carinhosa de nos olharmos - tudo isso, absolutamente desprovido de verdade e sentimento.
É isso que eu preciso entender. Só isso. Entender, aceitar e resolver o que vou fazer com esse entendimento.

domingo, 28 de junho de 2009

Eufemismos: pra se fazer entender.

Diante da minha instabilidade emocional e da minha inconstância de pontos de vista, anseios e expectativas eu declaro que tudo escrito nesse blog tem prazo de validade de presunto e credibilidade de buteco do mercado central. E não vale um lote no ceasa.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Redescobrindo: borboletas na barriga

Eu tô tão feliz que isso tá me assustando. Esse nível de empolgação que elimina minha concentração, me joga num mundo de fantasias românticas e me faz ter atitudes tão patéticas que eu duvido da minha sanidade mental - como esperar ele vir falar no msn comigo e quando a aba alaranjada com o nome dele começar a brilhar na minha tela, poder ficar olhando e suspirando. E feliz da vida. Ele está ali. Falando comigo. E é tão banal. Mas quase que eu tenho um orgasmo. Múltiplo!

Então, desde o meu último encontro com ele eu percebi que eu já tenho algo. A convivência enriquecedora já se traduz numa experiência incrível. E se não der certo, tudo bem. Ele já me deu um monte de coisas. Me transformou. Já é inesquecível.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Eu conheço essa história

Novidade: eu não tenho nada. E nem vou ter.
(sim, é uma resposta dupla ao post abaixo, tão pateticamente inudado de ilusão).

Eu não vou ter nada de você. Você vai me chamar pra sair num dia de ócio, carência e tédio, em cima da hora, e com planos de sexo no final da noite (o que na verdade justifica todo o encontro e a conquista virtual babaca). Então, eu vou rir de tudo, num misto de nervoso e alegria. Você vai pensar em como me convencer a levar pra cama. Eu vou fazer planos em torno de um futuro romântico e me imaginar, cheia de orgulho, te apresentando pros meus pais. Você vai pensar em como pode arrancar minha roupa o mais rápido possível e depois esquecer o meu nome. Eu vou te achar lindo e de uma inteligência estarrecedora e concluir que sim, você, definitivamente, seria um namorado incrível. Você quer pedir logo a conta, é a sua chance: me incluir nas suas fantasias pornográficas mais obscuras. Eu quero fazer hora, contar alguma piada sem graça sobre o garçom, ir ao banheiro, me olhar no espelho com o ego enaltecido pra garantir que eu estou realmente tão bonita quanto eu acho que você mereça perceber. Você também vai ao banheiro, com fantasias imundas e inclassificáveis, armando joguinhos de sedução, que envolvem romantismo, promessas e elogios. Eu vou em sua direção, cambaleando de felicidade, vivendo sonhos de novela das seis. Você me beija como no final de uma comédia romântica americana e me fala elogios que eu não levo a sério, mas vibro de emoção ao escutar - pois saíram da sua boca. Você comemora a vitória - caí na rede, fui lubridiada pela sua lista indecorosa de artimanhas, e em segundos estarei na sua cama. Mas não. Eu queria mais do que estar na sua cama. Eu queria estar na sua vida. Te dou justificativas, argumentos e uma conversa séria e filosófica sobre princípios e valores - os quais eu só acredito quando estou embriagada por algum tipo de amor. Você acha tudo um saco, uma tia chata, careta e romântica, cheia de sermões e lamúrias. Se vê frustrado: tempo, dinheiro, táticas e esforço em vão - você vai dormir sozinho.
Eu vou dormir com você, nos meus devaneios de amor eterno.
E encontros assim, talvez serão sucessivos. Talvez você se canse antes e procure fontes mais facilitadoras. Talvez eu perceba qual é a sua, chore bastante num primeiro momento, pela desilução, mas muito em breve meu coração estará aberto novamente ao platônico - e cada vez mais trancado para o real.
Então tudo vai ser oficialmente declarado como terminado, numa conversa fria e angustiante no msn.
Eu conheço essa história.

sábado, 13 de junho de 2009

Amnésia forçada

Estou me esforçando para esquecer de como ontem foi tão bom. Quero me esquecer que ele teve a incrível capacidade de preencher praticamente todos os critérios. De ser bonito, autêntico, inteligente, interessante, tudo isso tão fácil e natural, tudo isso ao mesmo tempo.
Então, eu paro pra pensar que talvez eu não mereça. Talvez ele não me mereça, com todas as minhas confusões, minha dificuldade de vê-lo: ser humano e homem, de me envolver, de mergulhar. Com toda a minha falta de tato, afeto e vontade. Com toda a minha vontade de fugir, apagar essa historinha (começando assim, por botar tudo no diminutivo, tudo mediocre e pouco), apagar ele, apagar o romance e as ilusões e correr pros meus livros, pros meus amigos e meu mundo de quatro paredes - onde a vida faz sentido e é segura.
Tá. Sem desespero. Ainda não tenho nada. E nem sei se vou ter.
Mas me bate um frio na barriga ao pensar que eu posso perder o rumo no meio do caminho.
Pois ele tem todas as coisas que poderiam me fazer ficar, assim, completamente desnorteada.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Viver de verdade

Eu estou nervosa. Hoje é o dia das namorados e eu tenho um encontro com um semi-conhecido. Claro que eu estou me lixando pra o dia dos namorados, afinal, hoje é também o dia do xadrezista e da independência da Rússia, é tudo uma questão de prioridade - então vamos nos concentrar no encontro.
Este evento parece ter mais responsabilidade do que qualquer coisa que eu vivenciei em termos de relacionamento, nos últimos tempos. Desde que fiquei solteira (entenda-se: 6 meses) todos os meus encontros foram despropositais, casuais, desprovidos de sentimento e sem carga alguma de expectativas. E agora, parece que precisarei enfrentar algo que se assemelha à um encontro de verdade. Entre duas pessoas e não entre objetos. Na realidade e não aleatoriamente, como um fato da minha vida absolutamente isolado e desimportante.
Isso me deixa ansiosa, confusa e temerosa. Eu sei lidar?
A vida é mais fácil quando as pessoas são descartáveis, quando envolvimento emocional nenhum te abala, quando expectativas não são criadas, quando tudo é colocado como raso, mentiroso, superficial, vazio. Mas a vida assim, depois que você acorda, sobria, sozinha e oca, parece não fazer sentido nenhum.

domingo, 31 de maio de 2009

Lia

Eu gosto desse texto...


Lia estava parada num ponto de ônibus de uma avenida imunda e barulhenta, as 19hs d um dia cinza e comum. Olhou pro céu enfumaçado e escuro em busca de algum conforto pros olhos e pra mente, fatigados por tanta informação. Muitas pessoas, muito barulho, muito tinta esparramada nos muros caquéticos, muitas luzes e muitos carros, muito cimento cobrindo as ruas sem graça e brilho. E aquele céu morto, aquele pouco verde artificial plantado propositalmente pra tornar o cotidiano mais fácil de se olhar e viver. Lia só queria um lugar seu. Um lugar que pudesse se encontrar no meio da multidão, da confusão sonora e visual. Um silêncio bom e puro, uma calma extasiante, a beleza da simplicidade que as pessoas não conseguiam perceber, entorpecidos pela mentira de Shopping Centers limpinhos, azulejos novos, paredes alvas e o ar condicionado que tentava traduzir refrescância e ar puro. E Lia queria apenas praças cobertas de verde puro e real, flores de todas as cores que cobriam jardinzinhos e entorpeciam sua mente de tanta beleza e poesia, a harmonia de um silêncio nobre interrompido alegremente por ruídos de uma natureza viva. Todas às vezes que Lia sai do trabalho, as 19hs, num dia cinza e comum, em direção ao ponto de ônibus de uma avenida imunda e barulhenta, ela olhava pro céu em busca de pontinhos de luz perdidos em meio ao caos. Era uma tentativa desesperada de salvação. Ela precisava buscar a beleza pra se encontrar. Naquele dia haviam 4 estrelas no céu. Ela procurou insistentemente por outros pontos d luz. Em vão. Eram apenas 4, muito distantes uns dos outros e com uma luz muito fraca, apenas quem procurasse muito, com muita atenção poderia identificá-los. E apenas Lia que esperava tanto encontrá-los, movida por um entusiasmo lúdico, poderia tornar aquela luz muito mais brilhante do que era realmente. Ao ver as quatro estrelas apagadas no imenso escuro, riu feliz e satisfeita. Ainda existia vestígios de beleza. Lia de repente sentiu o aroma doce de uma Dama-da-noite. E esse aroma, era aquele que entre os mais diversos, despertava em Lia as sensações mais intensas e maravilhosas. Procurou extasiada aonde afinal se escondera aquela planta de odor mágico. Estava bem atrás dela, cheia d raminhos brancos, flores se abrindo timidamente e exalando o perfume que entrava dentro de Lia e convulsionava sua alma d emoção. Se pôs ao lado da planta e fechou os olhos pra sentir suas narinas absorverem a doçura do seu aroma.

E de repente se viu fora do mundo.

E fora do mundo ficou até se deparar com a doçura de um olhar etéreo e tranqüilo diante de si. A beleza mais bela desse mundo, a poesia mais poética d mil jardins floreados, a emoção mais intensa que o odor de mil Damas-da-Noite lhe acometeu a alma, e ela finalmente se perdeu. Custou a se encontrar, convulsionada por uma paixão inédita e sem estribeiras. Lia o olhava com uma fascinação quase paralisadora. De repente os carros afoitos diante de si, perderam o movimento, as luzes não brilhavam mais de maneira a lhe cegar os olhos e os sentidos, as pessoas não conversavam sobre banalidades, elas simplesmente viraram modelos congeladas por cimento e nada. O vento não mais lhe batia forte na cara, naquela noite gelada de agosto, e o barulho, todo aquele barulho mundano, ecoava agora de maneira mágica e descontrolada dentro do coração doente de Lia. Ela observava cada passo seu, cada olhar desproposital, cada gesto, cada espirro e piscar, cada mão abraçando o próprio corpo pra se proteger do frio, cada expressão de cansaço, cada bocejar e cada momento em que seus olhos se fechavam profunda e longamente para descansar brevemente da vida. Ele jamais olhara pra Lia. Não foi capaz de perceber a existência dela por nenhum segundo. E seus olhos eram tão fixos nele, tão obsessivos, a expressão no seu rosto explicitava tanta alegria e angústia diante de sua presença, era tão alucinada sua face em êxtase, tão transparente, Lia, no desabrochar mágico e arrebatador de sua alma.

O desespero de uma multidão que lhe acotovelava e gritava palavras ininteligíveis, despertou por alguns segundos Lia para realidade externa. Um ônibus havia parado no ponto, e muitas pessoas correram afoitas em direção a ele. Na baderna d pessoas e barulho, Lia procurava desesperada a existência daquele ser que havia se perdido na multidão. Foi quando o ônibus fechou suas portas e ela o viu lá dentro, sentado com a cabeça tombada no vidro embaçado. E num segundo breve e mágico q duraria pra sempre, ele a olhou. Fixamente, entorpecido por um encantamento inesperado. E aquele olhar roubou durante uma eternidade breve, toda a sua vida.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Maldita Escala

Escala Liebowitz - Transtorno de Ansiedade Social

Resultados

De acordo com a avaliação, você possui fobia social grave.


.... ah. é mentira, vai. =/

mas deu o mesmo resultado duas vezes.


domingo, 17 de maio de 2009

E mais nada

Na sexta eu fiz coisas que eu só me permitia fazer possuida pelo álcool. Sim, pra depois me enfiar num buraco de culpa, vergonha e ansiedade e responsabilizar aquelas cervejinhas pelo burlar das minhas verdades. Isso que é covardia em se assumir. 14 dias de antibiótico e o mundo ganha outras cores, outros significados, e enfim, se enche de verdade.
Na sexta eu me assumi. Me vi adulta, madura e capaz de suportar days after, com a maior tranquilidade que eu sempre invejei nas pessoas ditas "bem-resolvidas".
Não fiz reflexões chatas sobre a verdade, princípios, mudanças, auto-sabotagem. E olha que agora, eu teria um novo argumento: segundo psiquiatras desconhecidos eu me vejo no vidro, ao invés de me ver no espelho. Metáforas a parte, pra dar uma variada, me olhei no espelho, me vi, me reconheci e fiz uma escolha consciente, cheia de convicção.
E agora, eu estou ótima. Permaneço refletindo, uma vez ou outra, sobre os rumos da minha vida, das minhas escolhas, do meu futuro, desse novo caminho. E apesar de se preocupar comigo, eu sei que colocarei a razão na frente de qualquer coisa e sairei ilesa de tudo. O que me angustia é o outro lado. Os telefonemas que eu vou resistir em atender, os finais-de-semana aborrotados de livros e programas que não o incluem, a vida corrida, ocupada, os objetivos, os planos, as metas, o forró, a economia, a preguiça, a falta de energia porque eu me acabei, não dormi nada, me embriaguei até me arrepender, dancei até não ter forças pra andar, estudei até não aguentar mais. Enfim, parece que eu ocupo mais horas na minha vida do que ela realmente tem. E com mais intensidade do que custuma se ver por aí. E não existe espaço pra você. Mal tem espaço pra mim. Não tem energia para lhe dedicar encontros, telefonemas e ilusão.
Eu devia ter te avisado? Acho que eu já te avisei. Acho que continuo te avisando. Espero que você veja e não me atole em culpa com cobranças e expectativas que eu não vou poder realizar. Eu não te enganei. Essa é minha vida. Atribulada, louca, sem espaço, sem romance, sem ilusões e mentirinhas adolescentes. Eu não posso te dar muita coisa. E nem quero. Porque quero dar tudo de mim para alguma paixão alucinante. Tô cansada de caras legais. Super legais. E mais nada.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Maldita Amigdala

Sabe os viciados em morfina que começam a se contorcer de dor quando efeito do remédio começa a passar?! Sou eu, sete horas da noite, há dois dias.
Hoje eu fui esperta, almocei lá pelas 17h (é, enrolo pra comer até que meu estomâgo comece a gritar de dor e a virar do lado avesso. e não é frescura não, não dá pra explicar aqui o quanto dói engolir. mas não me intimido ao mostrar minha única amigdala, 10X maior e jorrando pus, talvez vocês ao menos imaginem o meu súplicio), um pouco de lasanha e água. Então consegui engolir sem fazer escândalos. Estou tomando um antiinflamatório de 12 em 12h, e é sempre às 9 e meia (da manhã e da noite) que eu engulo os tais comprimidos. Lá pelas 19h, o efeito dele começa a passar, e em breve precisarei de outra dose. Mas antes, esperarei cerca de 2h30 pra isso. E é uma oportunidade ímpar pra querer morrer, querer que o mundo exploda, querer que essa merda toda acabe, porque não existe razão pra sso, eu não mereço isso, não é possível, meu deus. E chorar e resmungar e odiar de maneira pluridirecionada.
Ontem, com o meu estômago se auto-destruindo em ácido clorídrico (não duvidem da potência da combinação: antibíotico + antiinflamatório + gastrite crônica), não pude resistir e comi, apavorada, 3 cream-crackers e meio copo de leite, aos prantos. Chorando, gritando, me contorcendo, esperando por qualquer socorro. Mas que socorro?! Tem que esperar, silenciosa, em inanição, cheia de mal-estar e dores, chorando e gritando e odiando o mundo, até que esse maldito remédio tenha mais efeito sobre minha amigdala do que sobre meu estômago. Tem que esperar calada, sem reclamar, sem chorar nas vistas alheias e sorrindo e sempre respondendo "estou melhor, sim" à tediosa pergunta "e aí, tá melhor?". E indo assistir aulas e estudando - mesmo sendo condenada terrivelmente por isso, por colegas e mãe e amigos, e comendo e conversando brevemente e rindo. Mas aí, as pessoas se comovem com minha capacidade ímpar de transparência e vem me perguntar ou comentar sobre a doença. Mas não importa, eu digo "é amigdalite". Ai elas tentam mostrar solidariedade e dão continuidade à conversa, reclamando da vida. É, meu camarada, não reclame porque está frio ou você está com preguiça e que aula tá chata. Sua saúde é de dar inveja. Eu daria qualquer coisa pra ter sua preguiça, seu frio e assistir mil aulas chatas, pra não sentir esse monte de coisas que você, apesar, de mostrar misericórdia, jamais soube o que é. E nem quer saber. Mas eu apenas concordo com tudo e sorrio.

Então, me deixem reclamar aqui. Porque não tem pessoa no mundo que mereça escutar todas essas lamúrias, então eu guardo tudo pra mim. Mas posso desabafar aqui. E você também não precisa ler, porque, sem dúvida, tem coisa mais legal por aí. Mas só me deixe descarregar.

E só pra dizer que eu não perdi o otimismo: não hei de lamentar porque o maldito médico me arrancou apenas uma amigdala, se podia me fazer ficar livre das duas. Afinal, o problema maior não é ter uma amigdala. Imaginem se eu tivesse duas?! Pelo menos, me livrei de uma. =)

domingo, 3 de maio de 2009

Maldito Acaso - parte 2

Gripe, gripe, gripe, muita gripe.
Agora toda semana é isso. É, eu sei, preciso cuidar mais da minha saúde.
Parar de sair, beber (gelado), de comer indecentemente aos finais-de-semana (almoçar já seria um bom começo). Relaxar um pouco, me esquivar brevemente dos estudos e das preocupações, e dormir mais horas e melhor.
Foi tudo isso junto em associação com a friagem de ontem combinada com a Brahma estupidamente gelada, e não dúvido nada: questões psicosomáticas, a respeito de nem-preciso-falar-o-que.
Então, enquanto eu estava dopada e acabada e destruída, estirada no sofá, mortificada de frio e sem conseguir me mover, eu senti meu coração sair do corpo numa velocidade sem limites. O corpo em dormência, falta de ar sem tamanho, e tudo embaçado e difícil de entender. Ligo pra minha mãe (há 30Km de casa) pra me acudir e enrolo a língua e sou impedida por uma força pavorosa e grande demais de verbalizar. Ela se desespera, saí às pressas em minha direção, liga pra minha tia e eu, tento fazer com que meu coração acalme um pouco e minha respiração volte à normalidade - como se estivesse no meu encalço!
Minha tia chega na minha casa aos atropelos e me leva ao pronto socorro.
Diagnóstico?! hipersensibilidade à cloridrato de efedrina, maldito princípio ativo dos dois comprimidos de Naldecon que eu tomei consecutivamente.
A médica com um sorriso largo no rosto de me dar ódio (é mesmo tão feliz assim se deparar com pessoas em sofrimento?! maldita cínica) explica: essa hipersensibilidade é raríssima, Marina. Infelizmente você foi escolhida.
Olha, não me diga. Eu fui escolhida, quanta honra, hein. Se já não bastava ter que manter distância do ácido acetilsalicílico. Ainda bem que inventaram a Novalgina, né (a arte de ver o lado bom).
Essas ironias da vida que me fazem ser escolhida para as coisas piores e mais patéticas.
Esse sádico acaso que está morrendo de rir de mim. De novo.
Dia improdutivo, choroso, de muito, muito frio e mal-estar.

sábado, 2 de maio de 2009

Maldito Acaso

Hoje amanheceu um dia lindo. Sol, céu azul, vento fresco.
E eu aqui, sem viver essa beleza.
Rolando na cama, com 4h de sono mal aproveitadas, com o estômago aos frangalhos, lacrimejando os olhos, sentindo meu coração escapar do peito a todo segundo e escutando, como num processo masoquista e torturante, "tudo por acaso" (nem preciso dizer como Lenine entrou na minha vida profunda e irremediavelmente nos últimos tempos).
Quando eu penso que vou conseguir finalmente engatar na coisa certa, na realidade, na verdade e na sensatez, o acaso me desestrutura à 1h30 da madrugada numa boate desconhecida, com um desconhecido, vivendo a sensação mais estranha e angustiante, jamais experimentada. Me tranco no banheiro, telefono, desesperada e cara-de-pau que sou, pra Nex. Me ajuda, o que eu faço?! Faça a coisa certa. Escolha a pessoa certa. Siga o que você quer. Não sei do que é certo, não sei quem são essas pessoas, aonde começa e aonde termina esses desejos e essa paixão dentro da realidade, não sei de correspondência, não sei de futuro, não sei da verdade, não sei qual o tamanho dessa mentira, não sei de nada. Não sei administrar o que está acontecendo. Talvez eu não saia desse banheiro nunca mais ou finja um desmaio ou chegue até o menino de sorriso lindo e diga toda a verdade. Sou apaixonada por um cara que conversou comigo nos últimos 2 minutos, não é você, é ele, sinto isso dentro de mim com uma certeza estranha, absoluta e quase profética. Por favor não me tire a aoportunidade de ser feliz. Eu preciso viver esse amor, nem que seja pra constatar que era mesmo a maior e mais ridícula de todas as ilusões. Então ele iria ter ódio, vergonha, desolação, incompreeensão, me dizer poucas e boas aos palavrões e ir embora, resmungando os piores termos já direcionados à alguém. Não, eu não posso fazer isso. Vou ficar com ele, preciso ficar com ele, assinei a promissória, fiz esse contrato, devo isso a ele. Não sei explicar, mas devo. Toda essa expectativa, as conversas, esse encontro, esse desejo que eu preciso corresponder. E eu estava correspondendo plenamente, quase fascinada pelo sorriso bonito, o jeito lindo de dançar de James Brown e o papo delicioso. Eu ía beijar esse cara e achar a coisa mais legal dos últimos tempos. Apesar de ter a consciência que não estou aberta à relacionamentos e isso é incrivelmente mais forte do que minha sensatez, não estou apta a me entregar e tinha dúvidas angustiantes a respeito do que eu poderia de fato dar em troca pra esse cara. Meu tempo, minha energia, meu coração, minhas expectativas?! Não, eu não estou pronta pra isso. Mas enfim, eu tentei investir em algo aparentemenete bacana, dentro da realidade e abandonar ilusões em torno de um platonismo babaca e adolescente.
Porque o dono dessa minha paixão, mora no meu bairro, almoça no mesmo restaurante que eu, frequenta a mesma escola de dança e faz compras na mesma farmácia e na mesma padaria e realiza saques bancários no mesmo banco que eu, mas passei 3 meses sem me deparar com a imagem desse sujeito. Conheci seu irmão, de DNA idêntico e com a mesma simpatia gratuita que me fascinou nele. Fiz buscas pela internet, me arrumei todas as vezes que fui até a padaria e passei mais perfume que o normal antes para ir às aulas de dança, com a expectativa de encontrá-lo. Sonhei, devaneiei, busquei em forrós, tentei encontrar amigos em comum, chorei pela beleza dessa paixão, chorei por raiva e frustração de não poder concretizá-la.
Era tudo em vão. Me parecia a maior prova de insanidade mental e isso começava a me assustar. Então decidi esquecer essa maluquice e arriscar viver algo, de fato.
Três horas depois da consecutiva e trabalhosa tarefa de me estabelecer dentro desse princípio, ele me cutuca, muito simpático e receptivo, puxa papos despropositais. Dúvidei da presença dele e da minha sanidade - era um sonho?! Não, tinham sido só 4 cervejas, e não há álcool no mundo que desperte surtos psicoticos. Era ele. Por que ele estava ali, destruindo meus planos, minha estabilidade emocional, alavancando em mim um vulcão de desespero, medo, choro e paixão?! Agora que tudo parecia dar certo. Ele de novo.
E não sei mais de mim.
Não sei quando será o próximo encontro por acaso e estou me controlando pra não esperar por isso à cada segundo, cada saída desproposital, cada ida ao restaurante e à farmácia.
Estou tentando me colocar nessa mais nova relação com o mínimo de entrega, mesmo que esse mínimo pareça não significar nada. Preciso me esforçar. Atravesar o espelho. Fugir de Wonderland. Viver na realidade.
O difícil mesmo tá sendo parar de chorar. Mas eu vou conseguir. Eu sempre consigo. E vai passar, e eu vou achar uma graça danada disso. Igual todas as coisas ridículas da minha não menos ridícula vida. =)

E só pra fechar, esse refrão, porque faz todo o sentido:

"Qualquer dia
Qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora
Tudo é invenção..."

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Escolhas

Hoje eu chorei no ônibus escutando Lenine cantar pra mim, a respeito de como a minha vida anda absurdamente fora do meu alcance.

Sim, porque essa maluquice de dedicação exclusiva, integral e quase obssessiva pelos estudos, tem, cada vez mais, feito com que a minha vivacidade desapareça. Meus hobbies, minhas músicas, filmes, livros, pessoas. O que eu amo tem ficado num canto esperando para que um dia eu possa, finalmente, olhar pra eles, me comover e voltar a viver com intensidade e entrega esses amores.

Os livros que eu fiz empréstimo de 1 mês na biblioteca pública e nem abri. E veja bem, eram livros que eu tinha um verdadeiro e grandíssimo interesse, de autores que eu gosto, tratando de assuntos que eu amo e me apetecem muito, muito mesmo. Nem abri.
Demorei 3 dias pra conseguir terminar de ver um filme alugado e ainda sim entreguei com atraso e pelo dobro do preço original.
Mal converso com minha mãe, mal encontro com meu pai, mal sei das minhas amigas de faculdade (mas tudo bem que isso é um problema delas também, e de algo obscuro e estranho que surgiu especificamente entre eu e uma delas, e que eu não aprendi a administrar. Mais estranho ainda é a força que isso tem, que me leva a afastar de todas as outras).
Fico exatas duas semanas sem mover um dedo para arrumar meu quarto, e espero calma e indiferente as mãos mágicas da faxineira quinzenal fazer o serviço.
Não me depilo, não faço a unha e minha sombrancelha grita por socorro.
Não vou mais ao cinema, ao teatro e à savassi fazer comprinhas esporádicas. Afinal, o tempo é mínimo e é preciso escolher. E eu escolho mal: álcool, forró, inferninhos e noites viradas. Acaba com minha saúde, minhas noites de sono, minha imunidade e sobretudo, meu dinheiro. Na última dessas vezes, minha moral acabou também, o que me fez repensar um milhão de vezes sobre meus princípios, meus valores, minhas vontades, meus anseios, minha verdadeira essência e essas coisas todas que norteiam a mente de pessoas chamadas de sensatas. Digamos que eu faço isso, muitos "days after", desde os 19 anos. Até que eu aprendi muito desses anos pra cá, mas essas recaídas rolam eventualmente e me afundam numa culpa terrível.

Enfim, estou precisando escolher melhor, em todos os sentidos. E escolher mais possibilidades, me limitando assim, vou deixando a vida pobre e tão pouco. Apesar de amar fazer o que faço, amar estar onde eu estou e amar estar cercada diariamente por quem eu estou, preciso entender que o mundo se extende quilometros além disso. E não posso deixar morrer em mim prazeres, motivações, interesses que me fazem tão bem, me realizam e me constroem um ser humano melhor e mais feliz.

Estou precisando de mais calma, meu corpo, mais de alma. Porque a vida é tão rara.... Enquanto o tempo apressa e o tempo acelera eu quero poder fazer hora e ir na valsa. Porque a vida é tão rara...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Trófeus

Quando conversamos, 8h da manhã, eu sonolenta e temerosa, com as mãos suadas de nervosismo, a cabeça vazia, o cansaço me consumindo e a fala lenta; ela agitada, dinâmica, ativa, mil idéias. Eu, insegura e com um entusiasmo, que eu sei, não consegui demonstrar, balançava a cabeça consecutivamente em concordância com tudo. Os planos, o cronograma, o projeto. Que bom! Então tenho uma orientadora. Um orientadora membro do CODEX, fodona, mega ultra master super competente, dedicada e presente. Então eu sai da sala aos sorrisos, me controlando pra não saltitar corredores afora de alegria, com o coração aos tropeços, e uma noção tão grande de realização, alívio, segurança. Tão feliz que até cumprimentei a faxineira no banheiro - eu, que nunca sei das pessoas ao meu redor, que nunca olho, reparo, converso e percebo ninguém - depois morri de rir da minha demonstração de estar fora de mim, abduzida por uma alegria sem tamanho. Sim, porque notar que existe uma pessoa no banheiro (obstáculo 1), desconhecida (obstáculo 2), às 8h da matina, horário que permaneço dormindo mesmo consciente (obstáculo 3), olhar pra ela (obstáculo 4) e cumprimentá-la (obstáculo 5 - nível advanced) é todo um processo complexo que não faz parte de mim, definitivamente ( e sim, infelizmente).
Sorridente lá fui eu até a biblioteca pesquisar sobre os temas pertinentes à minha futura dissertação (aí meu deus, me dá orgulho demais falar isso. e é bom curtir mesmo esse orgulho, porque depois tudo vira estresse e pavor). Com a correria de aulas, trabalhos, laboratório, projeto, aquela sensação foi morrendo em mim. Então, quando cheguei em casa e verifiquei meu saldo no banco, vi que minha bolsa tinha sido depositada. E de novo, senti muito orgulho e realização - eu fui dona dessa conquista. Eu mereço tudo isso. Eu mereço essa felicidade. Abri mão de mil coisas, publiquei, estagiei por mais de 1 ano, quase morri de estudar e corri átras disso com uma obstinação cega e absoluta. E ganhei um monte de coisas. Serve eternamente de exemplo pra mim e me faz perceber quantas conquistas ainda me aguardam lá na frente. Porque posso, consigo, me esforço, me esfolo e me mato, aí, no final de tudo, eu agarro o meu trófeu nas mãos, cheia de amor por mim e pelas minhas vitórias. E hei de conseguir muito mais. =)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Gente não é Trident

Tenho raiva e frustração por estar tão bonita pra alguém que eu não gostaria de oferecer nem um milhonésimo dessa beleza. Esse cara que fala mansamente, demonstra gentileza e interesse, esse cara que não perde oportunidades de me dizer coisas bonitas e que quer encontrar comigo com uma expectativa inocente, adolescente e tão pura. Uma expectatva que há tempos eu não conheço. Pra esse cara eu gostaria apenas de oferecer meu muito obrigado, devolver gentilezas e retornar, ridícula e desapontada para o meu calabouço estapafúrdio de fantasias.
Sei que vou olhar pra ele mil vezes hoje e dizer mentalmente: não é vc, não é vc, não é vc. Não é você que eu quero, que eu poderia me apaixonar destrambelhadamente, que eu daria tudo de mim, que eu sorriria e brilharia os olhos ao lembrar. Não é você. E talvez eu esteja chata e exigente demais, acreditando em ideais que nunca vão se concretizar. O humano, o trivial, o comum se torna absolutamente inferior perto da infinidade de qualidades que eu sonhei em alguém.
Não vou fazer isso. Vai ser uma saída esporádica, com alguém esporádico, umas cervejas, uns papos bestas, umas risadas, uns beijos automáticos. Essas coisas de um encontro sem paixão, apenas conveniência. Espero não ficar triste, não chorar no banheiro, não querer vomitar esse mundo e essas pessoas que me enojam (o que também me inclui) e essas políticas estranhas de amor, sexo, paixão, mentiras, jogos, ilusão que eu levanto bandeiras enormes de aprovação e conivência, mas choro calada no canto porque não consigo lidar. Porque sou mulher demais. E isso é bonito. Mas é um defeito. Desse jeito o mundo me engole e por isso, elaborei esses mecanismos de defesa, de mentira, auto-sabotagem e auto-destruição. E as mulheres fazem isso, todas elas, umas com mais competência que outras. Mulheres se corrompem e vestem a camisa de feministas liberais pra sobreviverem, pra sofrerem menos, para viver de forma condizente com esses tempos estranhos, para ser moderna, bem-resolvida, livre e feliz. E depois, quando se calar às próprias reflexões e entrar dentro de si querendo entender suas emoções vai se ver tão ridícula e tão errada.
Gente não é Trident. Custa baratinho em qualquer esquina, tem gosto e cheiro e cores no começo. Na medida que vc vai mastigando a borracha endurece, vira ensossa e doi os maxilares. Aí, vc joga fora. Aguarda mais duas horinhas e pega um de outro sabor.
E fico aí, falando coisas baseadas em princípios lindissimos, com a sensibilidade supostamente aflorada e demonstrando muita sensatez. E aguardo, com o perfume que me embrulha o estômago o cara gentil mas por quem eu não consigo sentir nada, me buscar. Quero ver de colé que é, como dizem meus vizinhos aqui do Papagaio. E que se for ruim, que seja muito que é pra me convencer de maneira absoluta e não ficar com ilusões babacas de menina-moça.
Qual música será que vai tocar no carro? E será que ele vai se lambuzar de perfume e loção pós barba até o limite que meu estômago suporta? Será que ele vai me fazer perguntas íntimas, vasculhar meu passado e fazer comentários indevidos? Será que ele vai passar gel no cabelo e falar tão lentamente que meu sono vai atingir ápices inesperados?
Essa novidade é estimulante. Trident, né. =)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mentira

"A pessoa por quem a gente se apaixona sempre não existe"

quarta-feira, 11 de março de 2009

Hoje foi um dia estranho.

Fui no clube mas esqueci o bíquini em casa, perdi o ônibus experimentando roupas que eu não comprei, tomei café sabor detergente, falei coisas idiotas com um réporter da TV Assembléia que queria me entrevistar na Savassi, deixei scrap prum desconhecido pedindo links pra Download de músicas e quase quis chorar na aula em pleno Martinho da Vila nas alturas - é ele e o desprezo e a sensação mais óbvia e dolorosa de inferioridade.

Tô levando a sério demais minha novela das 6. Só pra fugir da realidade de amores possíveis. Mas o envolvimento emocional de fato me dá frio na espinha de pavor e não posso evitar. Por enquanto não posso. Talvez, se um dia ele se interessar por mim, eu me apavore, queira fugir desesperadamente para qualquer lado onde eu encontre apatia e indiferença. A não realização desse romance de alguma forma me conforta. E constatar isso me revolta. Revolta a minha covardia. O meu coração à sete mil chaves, buscando saídas pra se esconder e se realizar com o utópico de maneira única e simplesmente fantasiosa.
E eu fico aí, me gabando de uma liberdade mentirosa. Que nada, tô presa aos meus traumas e ao meu medo.

Mas talquei, gente. Tô mesmo muito nova pra essa história de namoros sérios e eternos. No forró, dia desses:

- Quer namorar comigo?
- hahahahaha. Não!
- Não?! Por que não?!
- Tô muito nova pra essa história de namorar.
- Mas quantos anos vc tem?
- 23.
- E se acha muito nova pra namorar?
- Sim, muito nova. Vou ali no banheiro, meu caro.

Mas talvez eu esteja muito velha pra amores platônicos à la menina de primário.

sexta-feira, 6 de março de 2009

- Marina, o que te dá prazer?!
- Chocolate.

Frustrando a expectativa de colegas mau-intencionados no jogo mais recreativo de uma madrugada alcoolica: verdade e consequência.



O niver da Raissinha foi lindo. Ver ela toda feliz cantando e dançando Raul e Beatles me deixou contente, me despertou sorrisos sinceros quando senti o amor despertando em mim. Afinal, o amor não é estático e constante - é feito de flashs, nos quais agente se exalta e se surpreende ao encontrá-lo dentro da gente.

Chops sem fim, banda supimpa, dancinhas e coros e dialogos malucos. Depois, casa da Raissinha, lanche de Mamis (que é um doce de pessoa!), depravações e maluquices e 7h da manhã o sol batendo na minha cara, um calor insuportável (o mundo está acabando, minha gente!), conversas despropositais, mau humor, ansia por café, ducha gelada e cama forever. Então, cambaleando no meu salto 10, pego o ônibus às 9 da matina imaginando o quão terrível é a proporcionalidade existente em: uma balada ótima e um dia seguinte péssimo. Mas meu dia ficou bom depois da ducha, da cama e apesar de não ter café. E inclusive estou me preparando para hoje a noite ver o amor ser despertado em mim mais um monte de vezes. =)

quarta-feira, 4 de março de 2009

O encontro óbvio

Há pelo menos 1 mês eu torcia por um encontro óbvio, um encontro casual, um olhar, uma presença. No caso, com a mesma pessoa. Todas essas coisas com a mesma pessoa. Hoje eu ganhei um encontro óbvio. Morri de rir mentalmente. Eu sabia que esse dia ía chegar. Estava super concentrada num passo complicadissimo de pés e direções e charminhos e gingado quando do fundo do salão eu avisto pelo espelho o dono das minhas expectativas adolescentes. Senti uma alegria extasiante brotar dentro de mim. Sorri, explicitamente mesmo. Eu sou tão pateticamente explícita, que 2 segundos depois que eu percebo estar entregando o jogo sem pudores, dá vontade de esconder a cara entre as mãos e me martirizar numa culpabilização infinita por ser tão babaca. Rir de si mesmo é uma verdadeira arte, meus amigos. Hoje eu ri de mim um milhão de vezes durante 50 minutos, da minha indiscrição, da minha desconcentração, das maiores bobagens que eu falei, no ser totalmente ridículo, infantil e boçal que eu me tornei diante da presença dele. De errar passes idiotas, esquecer da música e falar abobrinhas diversas. Do que se trata? Só nervosismo ou resquícios de auto-sabotagem?! Eu sou mestre em armar armadilhas pra mim mesma. Enfim. Durante 2 músicas eu quase fechei os olhos e me deixei levar pelo extasiamento inexplicável que era estar ali. Mas minha consciência me cutucava com dedos sábios e depreciativos. E eu voltava a mim. Com passos errados, fora do ritmo e tão visivelmente nervosa. Eu sei que ele olhou pra mim como se eu fosse absolutamente nada, ou no máximo uma aluna desastrada e uma adulta com idade mental de 13 anos.

Ele já me olhou diferente. Já puxou assuntos inimagináveis e já perguntou a respeito da minha vida, com um interesse incomum. Mas eu fingia que não via, tratava mal, era grossa, ríspida e anti-social. Por que? Porque ele não me despertava nada mais que simpatia e eu namorava com um pseudopsicopata ciumento patológico e por quem eu era inexplicavelmente morta de amores, então eu tinha medo monstruoso de aproximações masculinas de qualquer natureza. Quando ele percebeu que eu não era nem interessante, nem simpática, passou a me olhar como se eu não tivesse mesmo a menor importância. Desde então ele ignora minha existência. Além disso, acho que contribui o fato que ele deve ter uma namorada de milhões de anos, num relacionamento falido e acomodado - não sei porque essa teoria me convence muitissimo. Deve ser porque é melhor acreditar nisso do que acreditar que ele tenha perdido o interesse em mim - se é que de fato, algum dia ele já teve.

Foi um encontro 10Kg mais gordo, com gel no cabelo e pancinha 4 meses. Uma imagem repulsiva?! Deveria ser. Mas eu fui pateticamente abduzida por uma paxonite inexplicável por alguém inexplicável. E que vai durar no máximo 2 semanas. Quando ele demonstrar qualquer absurdo, como um gosto musical duvidoso e mais 5 kg, provavelmente eu vou me desencantar profundamente e pra sempre. Por enquanto, ainda vou viver um amor platônico de novela das 6h. E adoro isso! =)

segunda-feira, 2 de março de 2009

essa MERDA

Essa merda. Essa maldita merda de Brasil. Olha lá eu falando palavrão. Tô com tanta ira e pavor dentro de mim, que na verdade "merda" foi a palavra mais amena que eu encontrei pra falar da minha revolta. E que na verdade, encaixa perfeitamente. Vejam só: acabei de ser assaltada, há 2 quarterões de casa, por dois moleques desgraçados que me jogaram no chão, tamparam meus olhos, me agarraram e puxaram minha bolsa com mais força do que eles achavam que eu não tinha. Mas eu tinha. Sei lá de onde eu tirei essa tal força, esse tal desespero que me faz agarrar a bolsa tão loucamente, que em meio a berros de pânico e pedidos de socorro travou-se uma guerra de puxa-puxa entre os dois assaltantes e a assaltada. Um verdadeiro teatro. Juntaram pessoas, curiosos ridículos e sádicos que só olham, comentam, se aterrorizam, agradecem à Deus por não estar no meu lugar e não FAZEM NADA. Não fazem absolutamente nada. Por que são brasileiros, são acustumados a estar na merda sem reclamar e sem lutar por dignidade. São brasileiros que silenciam diante das atrocidades desse país, dessa política, dessa saúde, dessa educação, desses impostos, dessa violência urbana. São surdos, mudos, cegos, paralisados na ignorância e na falta de auto estima que os permite acreditar que merecem mesmo serem tratados como lixo e não há motivo para se rebelar. Apenas maldizer, fazer piadinhas sórdidas e voltar pra seus butecos e carnaval e futebol e putarias sortidas. Ignorantes boçais animalizados de um país no qual a violência já foi a tal ponto banalizada que virou não só a coisa mais normal e aceitável do mundo, mas atração na rua, em pleno 12h de uma segunda-feira. Todos os dias, em qualquer horário, qualquer lugar, sempre. E especialmente nessa rua, tive notícias (conversando com as boas almas que me acudiram, me deram água, conselhos e apoio moral) que acontecem assaltos necessariamente diários, a esta hora do dia, quando a escola municipal (lotadaaaa de marginais já formados ou em potencial) encerra as aulas. Ninguém chama a polícia, faz abaixo-assinados, passeatas, campanhas contra a negligência do batalhão de polícia (que tem há um quarterão), contrata um segurança com os dízimos milionários da pomposa igreja ao lado (porque vou te falar, só Deus não está resolvendo o problema, minha gente). Ninguém faz nada. A comunidade se limita a chorar as pitangas e se lamentar diante da violência. Violência maior contra si mesmos, que assistem tudo, vivem tudo aceitando simplesmente, como numa teoria fatalista e burra de impotência. Se dois homens se juntassem pra dar uma boa e merecidissima surra nos marginais, não sobraria moleque sobre moleque, que sairiam chorando, mancos e desolados. Ah, nada nesse mundo me recompensaria e me faria tão realizada neste momento do que ver a humilhação e a dor desses filhos-de-você-sabe-quem. Essa dor e essa humilhação que eles fizeram não só a mim, como a muitos outros passar. Eu desejo isso não só aqueles dois, mas a todos os bandidos que se comportam dessa forma porca e desumana, eles que não merecem uma lágrima sequer, minha ou de quem quer seja, eles merecem mesmo é uma câmera de gás lotada de monóxido de carbono pra que eles possam se cortorcer lentamente numa asfixia desesperada - porque simplesmente morrer, seria apenas lhes fazer um favor. Estou sendo desumana?! Estou sendo irracional?! Estou sendo maquiavélica e egoísta ou ignorar os mil fatores sociais e culturais que levaram os marginais a serem marginais?! Estou. Vou te dar a cena que eu vivi há 1h atras, pra vc viver. Faça bom proveito e depois me conta se você tem um plano menos monstruoso que o meu.

Essa peste bulbonica do século 21, essa epidemia de filhos sem pai, sem mãe, sem lar, sem comida, sem dignidade, sem alfabeto, sem humanidade. Não, eu não vou ter dó, sabe. Sei de gente que saiu do lixão, das carboníferas, do trabalho escravo e se transformou não em algo muito extraordinário, mas simplesmente, em ser humano. Talvez eu não saiba do que eu estou falando, uma menininha mimada de apartamento que dá chilique quando um cara que não tem o que comer tenta lhe roubar o i-pod. Talvez para quem sai do zoologico, saber do que se trata humanidade é muito difícil, um parâmetro muito distante, praticamente desconhecido. Talvez roubar seja mesmo a única perspectiva. Talvez eu, que passei 6h por dia estudando pra passar no mestrado nos últimos 2 meses e que tenha como único e obstinado objetivo crescer profissionalmente não consiga compreender que quando se cresce dentro de uma favela cresce-se acreditando que ascenção é ter a maior boca de fumo, o maior controle, as melhores armas e maior número de seguidores. E essa é mesmo a única perscpectiva. Ou no mínimo, o ideal mais almejado. Uma realidade paralela ali dentro foi criada, um universo tal qual particular onde os nossos significados e valores, jamais serão os valores e significados deles. E que nós nem imaginamos, nem cinestas, nem jornalistas, nem livros, nem documentários e nem o Fantástico consiguirá jamais transmitir com toda a fidedignidade, numa postura imparcial livre de dramatizações e sensacionalismos o que se passa ali. Eu posso compreender os princípios básicos nos quais funciona as tais comunidades, mas eu jamais vou aceitar. Jamais vou aceitar como pessoas tiveram que se estabelecer segundo normas, perspectivas e crenças absurdas dentro de uma cultura imbecilizada e desumanizada, onde a violência é corriqueira e normal, as pessoas não são reconhecidas como pessoas, a vida perdeu o significado, crianças de 15 anos parindo outras crianças indiscriminadamente, pra botar no mundo mas bocas sem nada pra alimentar, mais humanos que vão perder a condição de humanos, de tal forma que não vão reconhecer a si mesmos e todos os outros como tais e se tornarão assim, mais marginais pra atormentar a sociedade e para serem sustentados por mais de 800 reais por mês em presídios tétricos.

Bom, voltando a cena: minha bolsa linda e vagabunda do Mercado Central (ainda bem que era ela!) rasgou no meio do puxa-puxa e meu celular de tela riscada e chip defeituoso escapoliu. Os marginais deviam estar abobalhados de medo diante do meu desespero, buzinas dos carros, pessoas se aglomerando e resolveram correr assim que pegaram o celular. Satisfeitos ou não com o bem adquirido, levaram apenas este. Minha carteira com uns 50 reais pra pagar o sapateiro (que também é um ladrão, mas dentro das vias legais), todos os documentos e meu inseparável melhor amigo i-pod ainda estão comigo. Por estar com os fones de ouvido tocando Adele no último volume e talvez pela tamanha adrenalina do momento eu juro que eu não escutei nada. Nem sei da altura dos meus gritos, mas sei que a moça do buteco da rua debaixo escutou e pensou que fosse briga. Essa mesma moça me acudiu, enquanto todos me olhavam andar em prantos e desolada pela rua. Ela me serviu um copo d'água, foi solidária e por apoio moral e sensibilidade, demonstrou muita revolta. Ficamos conversando um pouco, ela me contando dos assaltos diários, do medo, da indignação, das ameaças. Agradeci a ajuda e fui me retirando quando apareceu outro menino para me assaltar. Sim, eu disse: outro. Corri pra dentro da loja e chorei de novo imaginando como eu faria pra voltar pra casa, diante do trauma e das perseguições. A tal moça chamou um dos funcionários e pediu pra que ele me levasse de carro até em casa. Agradeci muito e ainda chorosa entrei no carro. Tocava um hino evangélico no som. E eu imaginei que é preciso mesmo muita fé pra lidar com toda essa merda. Que bom que ele tem à Deus.

Agora eu só tenho dor no corpo (não, não me machucaram diretamente. Só me agarraram e me pressionaram contra o chão como um animal), ainda tenho meu i-pod e meus documentos, além de ter me livrado de um celular caindo aos pedaços (é a arte de ver o lado bom).

Agora, chorar mais pouco, me revoltar mais um pouco, dormir pra silenciar minha mente e esquecer a cena.