quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Contradições

Quando você acha que tem tudo sob controle, aquele joguinho bem nas suas mãos, os sentimentos contidos, as emoções freiadas, as estratégias muito bem elaboradas e em pleno e eficiente funcionamento, as pessoas se submetendo às suas regras, você seguindo o que foi devidamente estabelecido. Tudo funcionando. Tudo ocorrendo bem. Tudo dentro do seu campo de manipulação. Tudo morno, calmo, tranquilo. Tudo simples. Tudo compreensível. Eventualmente, rola um vazio e uma frustração latente, que te faz repensar sobre a graça da vida estabelecida sob uma razão absoluta, onde a emoção não ganha espaço. Mas enfim... é o preço que se paga pra não sofrer, não correr riscos e ter (fantasiosamente) as relações e as pessoas nelas inseridas, sob o meu absoluto controle.
Mas num encontro, aparentemente sem importância, com alguém sem importância - só conversas despropositais, álcool, pele, carne, cheiros, beijos, mentiras e adeus - em alguma situação inesperada e subitamente você percebe que perdeu o controle. Não completamente, ainda existem meios pra se proteger, ainda existe a fuga covarde, ainda existe a contínua lavagem cerebral pra não se fazer acreditar no sentimento, no interesse, na importância, ainda existe a poligamia pra minar minha vontade de monogamia com aquele ser na minha frente sorrindo bonito. Aquele ser que era pra ser só mais um, em só mais um encontro, tudo muito pouco e sem valor. Foi tirado de mim o controle da situação. Parte do que estava nas minhas mãos, escapou. Minha supostamente inabalável razão foi abalada, perdeu parte do seu poder e do seu espaço dentro dessa relação. E aí, ganharam espaço toda a minha fragilidade e o meu estafo pelo esvaziamento afetivo, toda minha carência pelo desconhecimento do amor, do romance e da paixão. E então, eu inventei uma emoção. Porque viver relações vazias está me deixando cansada, triste, frustrada, confusa e distante de mim. Distante da minha essência, dos meus anseios - o maldito corrompimento em nome da adaptação. Quero um amor arrebatador ou não quero nada. Quero ficar sozinha. Preciso me encontrar. Não sei se essa emoção surgiu baseada na admiração e no afeto verdadeiros ou foi fruto da minha ânsia em me realizar emocionalmente. Não sei. Estou cansada também, de me iludir. Tanta mentira me deixa perdida e despreparada pra julgar a realidade. Talvez ele seja só mais um cara mesmo, em só mais um encontro. Talvez meu sentimento seja real, e eu devesse mesmo, acreditar nele e viver isso. Mas não quero. Não posso, não devo. Quero ser livre. Sem essas armadilhas estranhas de entrega, posse e resignação. E aí, que eu me confundo por completo. Porque desejo coisas paradoxais e não sei administrar a minha vida nesse sentido. Quero só carne, uso e descarte, diversão e desapego - e que toda essa vontade seja explícita e de mútua ocorrência, sem conversinhas, mentirinhas, promessas e sentimentalismo falso. Mas quero amor de verdade, beijos apaixonados, tremor nas mãos ao tocar, coração disparado ao ver, emoção arrebatadora ao pensar. E quero ser livre, ter meus finais-de-semana, meus amigos, meus forrós, meu tempo, minhas vontades, minhas viagens, meus próprios limites. Mas quero a exclusividade, quero ter alguém pra embalar meus sonhos, compartilhar minha vida e assistir filme abraçada no sofá. É estranho ter essas vontades simultaneamente, sendo que todas elas, me provocam um misto absurdo de repulsa e expectativa, anseio e nojo, ambição e desprezo.

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