quinta-feira, 2 de abril de 2009

Gente não é Trident

Tenho raiva e frustração por estar tão bonita pra alguém que eu não gostaria de oferecer nem um milhonésimo dessa beleza. Esse cara que fala mansamente, demonstra gentileza e interesse, esse cara que não perde oportunidades de me dizer coisas bonitas e que quer encontrar comigo com uma expectativa inocente, adolescente e tão pura. Uma expectatva que há tempos eu não conheço. Pra esse cara eu gostaria apenas de oferecer meu muito obrigado, devolver gentilezas e retornar, ridícula e desapontada para o meu calabouço estapafúrdio de fantasias.
Sei que vou olhar pra ele mil vezes hoje e dizer mentalmente: não é vc, não é vc, não é vc. Não é você que eu quero, que eu poderia me apaixonar destrambelhadamente, que eu daria tudo de mim, que eu sorriria e brilharia os olhos ao lembrar. Não é você. E talvez eu esteja chata e exigente demais, acreditando em ideais que nunca vão se concretizar. O humano, o trivial, o comum se torna absolutamente inferior perto da infinidade de qualidades que eu sonhei em alguém.
Não vou fazer isso. Vai ser uma saída esporádica, com alguém esporádico, umas cervejas, uns papos bestas, umas risadas, uns beijos automáticos. Essas coisas de um encontro sem paixão, apenas conveniência. Espero não ficar triste, não chorar no banheiro, não querer vomitar esse mundo e essas pessoas que me enojam (o que também me inclui) e essas políticas estranhas de amor, sexo, paixão, mentiras, jogos, ilusão que eu levanto bandeiras enormes de aprovação e conivência, mas choro calada no canto porque não consigo lidar. Porque sou mulher demais. E isso é bonito. Mas é um defeito. Desse jeito o mundo me engole e por isso, elaborei esses mecanismos de defesa, de mentira, auto-sabotagem e auto-destruição. E as mulheres fazem isso, todas elas, umas com mais competência que outras. Mulheres se corrompem e vestem a camisa de feministas liberais pra sobreviverem, pra sofrerem menos, para viver de forma condizente com esses tempos estranhos, para ser moderna, bem-resolvida, livre e feliz. E depois, quando se calar às próprias reflexões e entrar dentro de si querendo entender suas emoções vai se ver tão ridícula e tão errada.
Gente não é Trident. Custa baratinho em qualquer esquina, tem gosto e cheiro e cores no começo. Na medida que vc vai mastigando a borracha endurece, vira ensossa e doi os maxilares. Aí, vc joga fora. Aguarda mais duas horinhas e pega um de outro sabor.
E fico aí, falando coisas baseadas em princípios lindissimos, com a sensibilidade supostamente aflorada e demonstrando muita sensatez. E aguardo, com o perfume que me embrulha o estômago o cara gentil mas por quem eu não consigo sentir nada, me buscar. Quero ver de colé que é, como dizem meus vizinhos aqui do Papagaio. E que se for ruim, que seja muito que é pra me convencer de maneira absoluta e não ficar com ilusões babacas de menina-moça.
Qual música será que vai tocar no carro? E será que ele vai se lambuzar de perfume e loção pós barba até o limite que meu estômago suporta? Será que ele vai me fazer perguntas íntimas, vasculhar meu passado e fazer comentários indevidos? Será que ele vai passar gel no cabelo e falar tão lentamente que meu sono vai atingir ápices inesperados?
Essa novidade é estimulante. Trident, né. =)

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