sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eufemismos (medíocres) da vida moderna (medíocre)

Nesse atual mundo estranho e maluco é tão difícil que as pessoas aceitem o sofrimento, a rejeição, o desprezo, a frustração, a dor. É inaceitável o sofrer - isso é coisa de gente frágil, dramática e dotadas de uma sensibilidade que vira piada. Devemos buscar saídas, fugas paliativas pra não perceber, não sentir e não viver o que de ruim nos foi proporcionado. Devemos esquecer, anular, embotar, fingir que esta tudo ótimo, que tudo é comprensível e suportável. Encher a cara, falar de coisas sem importância, mergulhar em atividades hedonistas sem propósito. Nos alienar em mentiras, em prazeres efêmeros, numa felicidade falsa e inconsistente. Relevar, não sentir, se cegar e dizem por aí: "passar-por-cima-bola-pra-frente-e-a- vida-continua". Como se esse conjunto de metáforas idiotas não quisessem dizer apenas:

“ignore o que existe de ruim na sua vida, os acontecimentos lamentáveis, as humilhações, as decepções, as pessoas desprezíveis que passaram pela sua vida, os comentários que você não queria mas precisou escutar, a batalha perdida, o ego imenso que não suporta ser atingido negativamente, a falha, o erro, a culpa, a mentira, a perda, o fim, o vazio. Ignore tudo isso e busque alguma válvula de escape qualquer, alguma satisfação passageira que segundos depois vai te conceder mais vazio e frustração do que você imaginou ter. Corte o cabelo, troque de namorado, faça umas boas compras, viaje pro litoral, vai pra noitada alcoólica curtir um espetáculo medíocre de ego e sedução, conte piadas, fala sobre a vida da vizinha problemática e enfatize sempre o quão grande é o espaço da futilidade na sua vida. Ignore seus problema, aponte o dos outros. Ignore sua tristeza, busque a falsa realização sob quaisquer meios. Concentre-se no que não é relevante e abandone o que realmente deve ser encarado de frente, com coragem e maturidade. Não aprenda com seus erros, insista neles acreditando estar fazendo o que deveria ser feito, sem que a reflexão permeie sua mente por nenhum segundo. Mantenha a infelicidade constante, brevemente invadida por alguns segundos de prazer, através destes mecanismos doentios de se enganar. Paralise sua mente infantil e imatura, não perca tempo tentando se entender, entender suas atitudes e o mundo a sua volta – tudo parece-lhe confuso e desgastante demais. Apenas exista, viver pode te exigir mais energia a qual você está disposto a oferecer e mais pesar que você pretende vivenciar, não importando-lhe o quão a dedicação, a dor, a reflexão e a disciplina valham a pena, te oferecendo uma mente mais límpida, um coração mais preparado e calmo, uma maturidade incomparavelmente superior”.

Sabe, eu não quero passar por cima. Quero ver os fatos, me livrar de todas as ilusões, sofrer mas apenas o necessário, lamentar, mas apenas para reconhecer o sofrimento e discernir caminhos, buscando aqueles que não me remetam mais a essa dor. Quero aprender. Quero amadurecer. Quero poder me elevar – em mente e espírito. Quero ter um maior controle das minhas emoções - e quem me conhece sabe o quão isso é difícil e doloroso pra mim. Quero acreditar que eu posso sim errar, aceitar o erro, me perdoar e virar a página do erro, sem lamentações, idéias fixas e sem tomar decisões radicais e irremediáveis (que duram cinco minutos). Quero descobrir o meio termo. Os extremos me levam pra fora da realidade.
Quero descobrir como é possível sentir e pensar ao mesmo tempo sem que eu opte pelo desgaste por uma emoção arrebatadora e nem por um esvaziamento humano pela incapacidade de sentir. Quero confiar naquilo que eu acredito, vivenciar minha essência e não me corromper. Aprender a lidar com o difícil dilema de me adaptar ao mundo, viver nele com menos sofrimento e de maneira mais tranqüila, sem que eu precise me corromper, esquecer do que eu sou e acredito, pra vivenciar metas metodicamente estabelecidas por uma razão desmedida, de como-ser-como-viver-e-mil-justificativas-para-tudo. Como se eu fosse uma legislação, e não um ser humano. Como se eu fosse dotada de normas, artigos e imposições, e não como se eu fosse alguém com princípios frágeis, passíveis de sofrer reflexão e mudanças, como se eu não passasse por transformações diárias em meus comportamentos e maneiras de entender o mundo e, sobretudo, me entender. Como se eu não tivesse 23 anos e pudesse ainda cometer milhares de erros e loucuras, como se eu não pudesse me desestabilizar emocionalmente por causas injustificáveis, como se eu não pudesse ser responsável pelas piores bobagens e os maiores arrependimentos por não saber como agir - e agir errado. Como se eu tivesse a obrigação de ter todas as respostas, entender tudo e todos, prever fracassos e falta de caráter alheio. Como se eu não tivesse TPM e não me transformasse num ser irracional e insano por causa desses hormônios out of control. Enfim... ser realista nunca é demais. E “passar por cima” é um eufemismo medíocre que simplesmente me remete a: se encher de mentiras pra se livrar de erros e sofrimentos que persistirão enquanto você não os percebe, os entende e se mune de armas para remedia-los e preveni-los.

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