sábado, 2 de maio de 2009

Maldito Acaso

Hoje amanheceu um dia lindo. Sol, céu azul, vento fresco.
E eu aqui, sem viver essa beleza.
Rolando na cama, com 4h de sono mal aproveitadas, com o estômago aos frangalhos, lacrimejando os olhos, sentindo meu coração escapar do peito a todo segundo e escutando, como num processo masoquista e torturante, "tudo por acaso" (nem preciso dizer como Lenine entrou na minha vida profunda e irremediavelmente nos últimos tempos).
Quando eu penso que vou conseguir finalmente engatar na coisa certa, na realidade, na verdade e na sensatez, o acaso me desestrutura à 1h30 da madrugada numa boate desconhecida, com um desconhecido, vivendo a sensação mais estranha e angustiante, jamais experimentada. Me tranco no banheiro, telefono, desesperada e cara-de-pau que sou, pra Nex. Me ajuda, o que eu faço?! Faça a coisa certa. Escolha a pessoa certa. Siga o que você quer. Não sei do que é certo, não sei quem são essas pessoas, aonde começa e aonde termina esses desejos e essa paixão dentro da realidade, não sei de correspondência, não sei de futuro, não sei da verdade, não sei qual o tamanho dessa mentira, não sei de nada. Não sei administrar o que está acontecendo. Talvez eu não saia desse banheiro nunca mais ou finja um desmaio ou chegue até o menino de sorriso lindo e diga toda a verdade. Sou apaixonada por um cara que conversou comigo nos últimos 2 minutos, não é você, é ele, sinto isso dentro de mim com uma certeza estranha, absoluta e quase profética. Por favor não me tire a aoportunidade de ser feliz. Eu preciso viver esse amor, nem que seja pra constatar que era mesmo a maior e mais ridícula de todas as ilusões. Então ele iria ter ódio, vergonha, desolação, incompreeensão, me dizer poucas e boas aos palavrões e ir embora, resmungando os piores termos já direcionados à alguém. Não, eu não posso fazer isso. Vou ficar com ele, preciso ficar com ele, assinei a promissória, fiz esse contrato, devo isso a ele. Não sei explicar, mas devo. Toda essa expectativa, as conversas, esse encontro, esse desejo que eu preciso corresponder. E eu estava correspondendo plenamente, quase fascinada pelo sorriso bonito, o jeito lindo de dançar de James Brown e o papo delicioso. Eu ía beijar esse cara e achar a coisa mais legal dos últimos tempos. Apesar de ter a consciência que não estou aberta à relacionamentos e isso é incrivelmente mais forte do que minha sensatez, não estou apta a me entregar e tinha dúvidas angustiantes a respeito do que eu poderia de fato dar em troca pra esse cara. Meu tempo, minha energia, meu coração, minhas expectativas?! Não, eu não estou pronta pra isso. Mas enfim, eu tentei investir em algo aparentemenete bacana, dentro da realidade e abandonar ilusões em torno de um platonismo babaca e adolescente.
Porque o dono dessa minha paixão, mora no meu bairro, almoça no mesmo restaurante que eu, frequenta a mesma escola de dança e faz compras na mesma farmácia e na mesma padaria e realiza saques bancários no mesmo banco que eu, mas passei 3 meses sem me deparar com a imagem desse sujeito. Conheci seu irmão, de DNA idêntico e com a mesma simpatia gratuita que me fascinou nele. Fiz buscas pela internet, me arrumei todas as vezes que fui até a padaria e passei mais perfume que o normal antes para ir às aulas de dança, com a expectativa de encontrá-lo. Sonhei, devaneiei, busquei em forrós, tentei encontrar amigos em comum, chorei pela beleza dessa paixão, chorei por raiva e frustração de não poder concretizá-la.
Era tudo em vão. Me parecia a maior prova de insanidade mental e isso começava a me assustar. Então decidi esquecer essa maluquice e arriscar viver algo, de fato.
Três horas depois da consecutiva e trabalhosa tarefa de me estabelecer dentro desse princípio, ele me cutuca, muito simpático e receptivo, puxa papos despropositais. Dúvidei da presença dele e da minha sanidade - era um sonho?! Não, tinham sido só 4 cervejas, e não há álcool no mundo que desperte surtos psicoticos. Era ele. Por que ele estava ali, destruindo meus planos, minha estabilidade emocional, alavancando em mim um vulcão de desespero, medo, choro e paixão?! Agora que tudo parecia dar certo. Ele de novo.
E não sei mais de mim.
Não sei quando será o próximo encontro por acaso e estou me controlando pra não esperar por isso à cada segundo, cada saída desproposital, cada ida ao restaurante e à farmácia.
Estou tentando me colocar nessa mais nova relação com o mínimo de entrega, mesmo que esse mínimo pareça não significar nada. Preciso me esforçar. Atravesar o espelho. Fugir de Wonderland. Viver na realidade.
O difícil mesmo tá sendo parar de chorar. Mas eu vou conseguir. Eu sempre consigo. E vai passar, e eu vou achar uma graça danada disso. Igual todas as coisas ridículas da minha não menos ridícula vida. =)

E só pra fechar, esse refrão, porque faz todo o sentido:

"Qualquer dia
Qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora
Tudo é invenção..."

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